Não há cenário mais incrível que Machu Picchu para uma cidade perdida
Com dicas de arqueólogo responsável pela manutenção do local por 20 anos, conheci este lugar enigmático e iluminado
O barulho das águas do rio Urubamba inspirava a conversa dentro do chalé na pousada Illarrimuy. O dono da pousada Ruben Orellana Neira destilava sua sabedoria contando episódios e histórias da civilização inca como uma metralhadora giratória. Enigmas, mistérios, hipóteses, figuras míticas e os estranhíssimos “ceques”, portais de energia e santuários que evolvem todo o altiplano andino a partir de Cuzco. Minhas sinapses em comunhão com o fluxo de pensamentos de Orellana borbulhavam com Machu Picchu, Linhas de Nazca, Chan Chan, Lago Titicaca e Cuzco.
Ruben Orellana me alertava que a cidadela de Machu Picchu encontra-se instalada sob uma imensa rocha de “granito blanco” (como é chamada a pedra branca em espanhol), repleta de cristais de quartzo. Suas teorias são profundamente empíricas. Para vocês terem ideia, Ruben Orellana, durante mais de 20 anos, foi o arqueólogo responsável pela manutenção de Machu Picchu. Neste período, localizou outros 44 novos sítios arqueológicos repletos de objetos, múmias e mistérios.
Na manhã seguinte à conversa no chalé, eu iria pegar o trem para conhecer uma das joias arqueológicas mais importantes do mundo e o destino turístico mais cobiçado na América do Sul: a cidadela de Machu Pichu. A viagem pela ferrovia é recheada de cenários exuberantes e passa rapidinho. A parada final é a estação de Águas Calientes, a 2.000 metros de altitude. O local é um emaranhado de restaurantes, hotéis, lojas de artesanato, curiosidades e muitos turistas. Para chegar ao sítio arqueológico, temos que ir de ônibus. São 30 minutos de subida em ziguezague alucinante até a entrada das ruínas, 500 metros acima.
Machu Picchu foi descoberta cientificamente pelo antropólogo americano Hiram Bingham, em 1911, graças a informações proporcionadas por locais. Machu Picchu era até então um segredo conhecido apenas por andinos. Hoje, quase completamente explorada, a cidadela é objeto de inúmeras crenças esotéricas, entre elas a de que a cidade estaria ligada à mineira São Tomé das Letras por um túnel.
Mas nada disso importa para os milhares de turistas que visitam anualmente o local, muitos em busca de florescimento, revelações e energização que, dizem, se encontra na geografia sagrada de Machu Picchu. Os atalhos e as dicas de Orellana sobre os segredos e mistérios da cidadela facilitaram com muita transparência meu entendimento.
Não existe cenário mais inacreditável para uma cidade perdida. Na primeira etapa, passamos pelo setor agrícola onde estão os terraços de cultivo desenhados na montanha. Do alto da zona agrícola , uma construção, provavelmente um posto de guarda, reserva a visão ideal para contemplar o complexo de Machu Picchu. A área urbana é composta por uma zona civil e religiosa. O que salta aos olhos, nesta duas zonas, são as construções em pedra com suas paredes voltadas ao interior, para enfrentar abalos sísmicos.
Um dos maiores atrativos de Machu Picchu é o assombroso nível técnico de suas construções. O tradicional método quéchua de encaixe atinge seu paroxismo numa grande pedra de 23 ângulos no templo Central. Em algumas edificações, o grau de precisão é tão milimétrico que é impossível introduzir entre as uniões dos blocos de pedra a ponta de uma agulha. Para quem deseja mais adrenalina, o lance é subir o Huanya Picchu (que significa montanha jovem), em oposição a Machu Picchu. O pico icônico do destino é acessível por um caminho tortuoso e íngreme.
O motivo para a existência de Machu Picchu permanece indecifrável até hoje. Poderia ter sido um santuário para as virgens do sol, uma universidade, a última cidade do império inca, já na descida dos Andes a floresta, um centro avançado de estudos, o enigma continua… mas a visita ilumina nossas vidas.
Desde dezembro de 2014, é possível fazer turismo virtual pela cidadela com a ferramenta Google Street View. Confira o passeio virtual por Machu Picchu aqui.
Onde ficar
Pousada Illarrimuy (Calle Manzanapata s/n)
Encravada no vilarejo de Urubamba, a pousada é um verdadeiro Shangri-lá de tranquilidade e hospitalidade. Mestre Ruben Orellana é um capítulo à parte. Sua sabedoria vai além dos povos andinos. Como ele mesmo se auto-intitula, é um “arqueoloko”: uma mistura de arqueólogo com xamã.
Pousada Illarrimuy (Calle Manzanapata s/n)
Encravada no vilarejo de Urubamba, a pousada é um verdadeiro Shangri-lá de tranquilidade e hospitalidade. Mestre Ruben Orellana é um capítulo à parte. Sua sabedoria vai além dos povos andinos. Como ele mesmo se auto-intitula, é um “arqueoloko”: uma mistura de arqueólogo com xamã.
Belmond Sanctuary LodgeEste hotel é o único que está encravado no alto da montanha, ao lado de Machu Picchu. O cenário é exuberante. Fica na porta do parque. Imagine, depois de caminhar mais de 4 horas pelas ruínas o melhor é um banho de água quente, massagem e relax. A atmosfera da noite é de outras esferas.
Comentários